quinta-feira, 7 de maio de 2015

Santo Antão: descida da Cova

O despertador toca, dou duas voltas na cama e espero que volte a tocar. Estou num Bed & Breakfast recomendado pelo rapaz do aluguer. Na cozinha apertada, com vista para o mar, fala-se em francês. Na mesa começam a aparecer sumos naturais da terra, crepes, doce, queijo, chá, café, leite creme com morangos, tanta coisa que a minha barriga tem dificuldade em albergar.
No relógio batem as oito horas, no fundo das escadas espera o aluguer vermelho que nos levará até Cova. Mas antes disso ainda havia um documento a receber e dois abraços para entregar. Lá fomos bater às portas, não havia tempo para chá e devia ter havido.
Aqui aprendi, que quando se bate à porta de alguém há que ter tempo para entrar, sentar e conversar: bo entra bo senta.

Ponta do Sol foi ficando para trás. Na Ribeira Grande seguimos o caminho para Cova.
As montanhas apertavam-me o coração e a paisagem ia ficando mais verde, tal como nos haviam prometido.



O aluguer abranda para prender os momentos na máquina fotográfica, mas, por vezes, por mais que tentemos a câmara não guarda a imensidão do espaço. Foi o que aconteceu  em Delgadinho, na Estrada de Corda. Neste lugar lê-se em várias línguas que Delgadinho é "um dos pontos panorâmicos mais apreciados ao longo da Estrada de Corda, a estrada mais importante de Santo Antão. A estrada corre sobre uma crista morfológica rude e vertiginosa, modelada nas lavas antigas.".



Daqui até Cova o caminho segue ladeado de sucalcos com cultivos e algumas casas. O verde vai preenchendo a paisagem. O aluguer pára vermos Cova, ou seja a antiga cratera do vulcão.






Descemos mais um pouco até ao lugar onde começa a caminhada.
Na primeira passada a primeira subida e um pouco mais à frente repartimos o caminho com duas vacas, que decidem inverter a marcha. Subo conversando com elas e lembrando o tempo em que as pastava na veiga com o meu irmão enquanto a avó ou a mãe cortavam erva.
As vacas seguem em frente e nós virámos à direita.









À sombra de uma árvore um guia com uns quantos caminheiros. Trocamos palavras e seguimos caminho. Fazemos pequenas pausas e pensamos nas botas e nos bastões que ficaram em Portugal. Eu que não sou muito boa com números diria que o declive é quase de 90%, entre curvas e contracurvas, até chegarmos a Cabo de Ribeira. Aqui era hora de aquecer o espírito e à boa moda portuguesa pedir um café, que tomámos a molhar bolinhos de S. Nicolau.

O corpo estava descansado para continuar a descer até ao Curral. Este é um lugar de um alemão onde se come comida da terra. Com vista para as montanhas depressa chega a cachupa refogada. Um manjar dos deuses e para ajudar à satisfação completa um gelado de banana, um café e um grogue.
A descida continuou. O joelho reclamou. A cachupa e o grogue, debaixo do sol, reduzem-nos as forças. Decidimos fazer uma sesta no muro perto de um trapiche. Qual ideia adocicada de embriaguez olfactiva!!!
































Um, dois, três... hora de continuar a descer que Vila de Pombas é um pouco mais em baixo.
Chegámos. Vila de Pombas (Paúl) é um lugar simpático junto ao mar, com alguns lugares para comer e para dormir. Nós escolhemos a Aldeia Jerome, entre canas-de-açúcar e buganvílias.



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