domingo, 10 de maio de 2015

O vulcão












Para a gente da minha terra,

Desde um tempo que não sei qual é que guardava duas curiosidades sobre a ilha do Fogo: ver e subir o vulcão e assistir às festas de S. Filipe.
Quando ouvi falar da erupção fiquei com vontade de ver mostrar o vulcão aos meus olhos. Das poucas vezes que o verbalizei vi olhares estranhos, sobre este meu desejo de ver o resultado de uma destruição, de como como a terra se renova e volta a ser terra de gente. Agora guardo esse desejo sobre o Nepal e outros lugares... bem mas é sobre o vulcão da ilha do Fogo, em Cabo Verde, que te escrevo.





Esta ideia de estar num lugar um só dia e em dia de festa parecia não tornar as coisas fáceis. Mas na carteira guardava o cartão do senhor Joaquim, aquele taxista de que te falei, que só ele tinha o carro ideal para subir até Chã das Caldeiras.
Em conferência com a minha companheira de viagem e depois de olharmos a cidade adormecida decidimos ligar-lhe e renegociar o preço pedido duas horas antes. Como um frete não se pode recusar, porque pode valer um dia normal de volta, o Sr. Joaquim depressa chegou à praça e lá fomos nós ladeira acima no seu 4 rodas amarelo, ouvindo histórias de trabalho em Portugal e histórias de erupções no Fogo.
Prometeu que nos levaria por um caminho interior e que voltaríamos por outro, junto ao mar para vermos as hortas. Assim foi.
O 4 rodas esforça-se entre a 1.ª e a 2.ª e às vezes lá sente a 3.ª mudança. Pelo caminho vão ficando povoações, paisagem seca com apontamentos de verde, cabritas que procuram refeição, gente que passa.





Ao entrar na zona do vulcão há uma placa que anuncia o parque natural e miúdos que vendem casinhas de lava.



A paisagem vai mudando. Quase parece um holograma. Vamos sabendo que, no lugar onde estamos, a lava não atravessou a estrada. À esquerda há vinha que renasce. De um lado e de outro há lava seca.
O vulcão mostra-se na sua imponência.E eu vou perdendo palavras.


O carro pára, não pode avançar mais porque no caminho há uma antena que monitoriza a atividade do vulcão. Ao pé dela uma família prepara-se para avançar a pé, dizem que vão fazer um piquenique mais lá à frente.




Vou tentando guardar imagens. Avanço de olhos fitos nele.
Não há ninguém por perto para além de nós. Impera a tranquilidade no ar e a incapacidade de imaginar que no chão que piso morou alguém.
Fechos os olhos  e volto a abri-los.
O vulcão ainda não pode ser subido. Ao seu lado mora um mais pequeno que ainda não adormeceu.
É hora de descer para a festa.





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