quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Cambodja e o amor à bicicleta

Para os que perguntam por mim,
 
A resposta vem numa palavra: Cambodja.

Porque vim?
Por muitas razões escondidas na palavra viajar e no insistir de uma mala que não deixa de querer estar em andamento. Todas as outras razões possíveis são para viver e descobrir.

Estou há uns quantos dias neste país surpresa, que me traz memórias de infância:

- quando chove cheira a terra molhada e a erva acabada de cortar à foucinha;
- uma duas, três ou quatro pessoas numa mota ou numa bicicleta, como quando íamos visitar os avós na terra ao lado ou descíamos a rua para ir ao rio;
- os campos verdes e alagados como a veiga, mas que em vez de erva ou milho têm arroz.

Quando aqui cheguei foi-me apresentada a minha bicicleta.


 
 Na primeira noite que me levaram a passear nela pensei que era uma insanidade eu andar nestas ruas cheias de tudo e menos ainda ir às compras nela. Queria sentir o chão nos pés e não ter de pôr os pés no chão. Nem pensar. "Os deuses deviam estar loucos"!!!
Quem me conhece sabe das minhas resistências, do meu rezingar baixinho para ninguém ouvir, que depois vai diminuindo até ceder ao poder mais forte das evidências.
Avisaram-me que não podia resistir. Logo perceberia porquê.




Na primeira caminhada, comecei a pensar que talvez tivesse de não o fazer e a palavra insanidade ia perdendo letras, conforme o calor ia aumentando.
Na segunda caminhada, ponderei arriscar, mas não me queria perder com os pés no ar. Pelo caminho lembrei-me da vermelhinha longe, na garagem... e eu, eu pus um chapéu porque o lenço não bastava. Também não me perderia assim tanto, pensei por instantes...Mas...Mas.... e os carros e as motas e as outras bicicletas???!!.... Ai a bicicleta e o saber que ao contar a história ouviria um "eu bem te avisei".

A resistência ainda demorou uns dias à espera da coragem. Quando se encontraram a cidade passou a ser outra e o longe fez-se mais perto.

Andar de bicicleta é um autêntico jogo de computador ao vivo (e eu que só gostava se jogar mortal combat no secundário, quando chegava fula da escola) - todos cabem e ainda há de caber mais um, nem que seja em sentido contrário, no olhar atento a tudo, no ouvido desperto e embalado... Um riso a cada vitória porque só podem existir vitórias!!!

Tuk-tuk, plim-plim, po-po são uma espécie de banda sonora no fintar das rodas, no correr dos semáforos.
 É a pedalar e a jogar que se percorre a cidade, ao sol ou à chuva... porque "there are nine million bicycles in" Phnom Penh.


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