segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Siem Reap - Angkor Wat e muito mais

para o meu irmão,

no relógio quase batiam as vinte e três horas e trinta minutos e eu estava deitada no autocarro, aconchegada com uma manta por causa do ar condicionado. De lá da frente vinham anúncios em khmer e em inglês, depois de terem distribuído água e toalhitas.
Depois de uma ronda pela internet os olhos começavam a pesar e a fechar-se lentamente.
O autocarro noturno percorreu os 314 km que separam Phnom Penh de Siem Reap em seis horas, com uma paragem de cerca de trinta minutos (ou talvez menos porque eu dormia). Quando lá chegou, ainda ao sol não tinha nascido.
Nas ruas escuras foi-se tateando o hotel, para um banho e mais umas horas de descanso antes de pedalar até aos templos.


Em frente ao hotel lá estavam as bicicletas para alugar, por um dólar por dia e mais à frente, um pouquinho mais à frente como quem sai surrateiramente da cidade estava o local de compra de bilhetes para o mundo da contemplação.
Pode-se comprar bilhete para um ou para mais dias. Os vinte usd custam a sair da carteira, mas se pensarmos que podemos passar o dia todo de templo em templo, que é como quem imagina de museu em museu, os usd saem com mais confiança.
Pedalar, pedalar... Escolher virar à esquerda, para amanhã virar à direita.
Paragem número 1 e única para as poucas horas que ainda restavam da manhã: Angkor Wat.


Angkor Wat é património material da UNESCO, é silêncio na imensidão de turistas.
É daqueles locais em que a brutalidade do Homem se desvanece e se pensa como é que tantos Homens juntos, com ajuda de elefantes, conseguiram construir tal obra.
Escadas, corredores, janelas, oferendas aos deuses, paredes cheias de histórias, que levariam dias e dias a ser contadas, mas que chegam aos ouvidos resumidas pelos guias turísticos ou aos olhos, que tentam encontrar as palavras do guia nas imagens.
Angkor Wat resume-se ao estar, ao captar o silêncio no meio da multidão, ao encontrar-se para lá do horizonte quente e húmido.

Era tempo de almoçar, beber coco fresco, tomar café e continuar a pedalar.
Pedalar de templo em templo, ler histórias no guia, encontrar histórias nas paredes ou em cada figura.






A tarde ia caindo e com ela a ideia de ver o pôr-de-sol porque as condições atmosféricas não permitiam, por isso antes que a noite caísse foi tempo de pedalar de volta à cidade, banhar e jantar.
Jantar francesinha em Siem Reap era o desafio da noite. Perdidos na noite e nas ruas trocadas do Trip Advisor lá encontrámos a Ribeira do Porto, que é como quem diz um restaurante português com sotaque do Norte.
A decoração não deixa enganar e a francesinha com um toque oriental também não. Para quem se perde de saudades vale a pena encontrar-se nos sabores da terra.


Ao pequeno-almoço os sabores eram os da terra, os da terra verde e húmida, os da terra dos sorrisos e das bicicletas. Falando em bicicleta, lá estava ela pronta para mais uma viagem pela história.


Era dia de virar à direita, de não resistir e comprar roupa leve com elefantes - à porta de quase todos os templos há pequenos negócios de roupas, recordações, esculturas, pinturas ou comida (o ananás é uma aposta 100% tudo).



Foi dia de ver templos molhados e pedalar à chuva entre risos e pensamentos lavados, quase acreditando que a bicicleta era um barco com duas rodas.



Chovia no corpo cansado, que se enxugava depois de um banho frio e que se aqueceu num copo de vinho que acompanhou o peixe do jantar.








Com uma flor no canto da orelha esperei pelo tempo do autocarro que me levaria à capital, para amanhecer entre os lençóis brancos: bom-dia Phnom Penh dos telhados coloridos, bom-dia varanda dos pontos cardeais.

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