sábado, 3 de outubro de 2015

Para Kampong Cham já e rápido

Bilhete em cima da mesa,

Para ti...

A ideia de partir foi apalavrada, mas estendeu-se languidamente ao longo do dia e tornou-se real antes do sol se deitar no colo da lua.
O dia começou com o espreguiçar e aconchegar do ar condicionado, esquecendo os quase mais de trinta graus, e num salto da cama a preguiça ia desvanecendo no pequeno-almoço com os olhos fitos no computador. Os dedos percorreram-lhe as teclas de página em página, escreveram textos aqui e ali e na ideia de encontrar um eventual trabalho fizeram clique na tecla enviar. Duas horas depois o telemóvel toca, numa conversa inacreditável desliga-se a chamada e minutos depois soa o sinal de mensagem: estava convocada para uma entrevista sabia-se lá onde.


O lá onde vinha nos mapas do google a uma distância temporal que uma cidade cheia de trânsito e um motorista de tuk-tuk perdido, mas confiante, tornavam diferente.


A entrevista correu num tom leve e animado pelo meu inglês com sotaque francês. Num aperto de mão espero que a chuva pare para voltar a negociar o preço do regresso por ruas desconhecidas e com direito a uma paragem para abastecer na bomba de gasolina.

As viagens de tuk-tuk têm quase sempre o seu quê de inesperado, mas mais tarde ou mais cedo acabam por chegar ao destino. Claro que o mais tarde ou  mais cedo depende sempre se o motorista sabe onde fica o destino e se consegue prever a rua onde tem menos dois ou três carros, duas ou três motas e uma dezena de bicicletas.

O sol tinha o seu ar lavado da chuva e começava a esticar os braços entre as nuvens, para vestir o seu pijama calmamente. Estendia o olhar para tentar avistar a lua, mas ainda era cedo. Ela ainda estaria a alindar-se para o seu fugaz encontro.




No bolso, o telemóvel treme e faz tremer o meu sentido de orientação: cinco minutos para chegar a casa e partir  - para Kampong Cham já e rápido!
O meu sentido de orientação olha para o google maps e pensa que não se pode perder, pede ajuda às referências visuais e cruza ruas e pessoas. Chegou, fez a mochila para um número de dias indefinido e em tempo record fechou a porta dizendo "venho já".



Phnom Penh foi mostrando outras ruas, lugares ainda para visitar. Kampong Cham mostrou-se dali a duas horas, já no escurecer do dia com a lua a guiá-lo. Pelo caminho campos de arroz, pessoas e mais pessoas, templos encontrados no inesperado do olhar, casas de madeira, ladeadas com bilhas para acumulação de água.





Na noite de Kampong Cham houve direito de experimentar iguarias menos comuns (penso) no ocidente: rã grelhada, acompanhada por legumes e carnes de vaca e porco. Haveria direito a olhar as estrelas e a adivinhar aquele lugar pequeno ao longo do rio.




A lua começava a ficar cansada e sol despontava na sua jovialidade faminta. Percebeu que não seria fácil fazer-se entender para tomar o pequeno-almoço, mas lá conseguiu uma sandes torrada com queijo e ketchup e na confusão de não beber leite bebeu um refresco com sabor secreto no fundo do copo, enquanto planificava o seu dia de visita e começava a sentir o corpo a fraquejar.


Enquanto fingia que não sentia o corpo fraco cruzou ruas na descoberta da cidade.... mas com a mesma pressa da chegada o telemóvel vibrou dizendo: para Phnom Penh já e rápido!







Deveria atender ao pedido do telemóvel?! Pensou que não porque estava ali para ver o que havia para ver, porém o corpo começava a pedir-lhe um remédio para as dores, que o iam impedindo de centrar o seu pensamento numa outra coisa e num ápice comprou um bilhete de autocarro, enfiou tudo à pressa na mochila e partiu olhando o caminho a partir do banco de trás.













Chegou e pensou: "Home, sweet home. I am back."... Tomou um remédio e enrolou-se no sofá depois de comprar pão com sementes.

Em Kampong Cham ficou por visitar uma ponte de bambu (em reparação) e o Wat Nokor... e muito mais que houvesse para o sentido de orientação se perder entre vilas e aldeias e se encontrar no recolher dos templos orando a Buda.


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