sábado, 26 de novembro de 2016

dona flor e seu(s) mar(idos)

para os que têm a leve ideia de ser meu marido,

há duas curtas conversas que se repetem. Uma de maridos, outra de futebol, dependendo do atrevimento do interlocutor, às vezes acontecem no mesmo parágrafo.


Em dias de sol ou de areia, aproximam-me, chamam cumprimentam, correm atrás, saúdam, de acordo com a hora do dia e a circunstância e às vezes seguem directo para um "és bonita" e eu que acredito que o espelho não me engana agradeço cordialmente, já a imaginar a próxima frase.

Com mais ou menos enredo a pergunta chega: "És casada?" - e eu respondo na cordialidade dos dias. Sem conversas longas e explicações.

As respostas positivas são perseguidas por outra pergunta: "português ou senegalês?".


Escolho o mais fácil do enredo - português - e num jeito de pressa deixo os pensamentos no ar. 

Houve até quem já perguntasse há quantos anos... imaginei-me a não perceber a pergunta, mas outra reforçou "dois ou três?"... debaixo de um guarda-chuva penso que três significará um casamento mais sólido e evitará mais perguntas inesperadas. Sou salva pelo táxi que chega..mas quem disse que os taxistas não fazem perguntas para além de como chegar ao destino. Há dias, do nada um saca da frase elogiosa. Insiste que é uma pena eu ter marido porque ele era solteiro e procurava uma Toubabe como eu - fez tal descoberta em dez minutos de caminho cheios de silêncio cortados por vire à esquerda, vire à direita... Fazer o quê quando o Jorge Palma podia cantar: "andas aí a quebrar intenções..."?!

Nesta altura, a areia voa e povoa campos de futebol, os mesmos que adorariam que recebesse os pés mágicos de Cris, como é familiarmente chamado Cristiano Ronaldo. O nome que aparece depois de descortinada a minha nacionalidade e leva a conversas de futebol ou a curiosidades semi-previstas.

É um problema o Cris não vir jogar ao Senegal, é um problema de outra dimensão ser "casada" (até o vizinho debaixo pensava que eu morava na casa do de cima) com um marido em qualquer outro continente do mundo... 

Se estão parados nas reticências a pensar porque não foram convidados para nenhum casamento então é porque não assumi nenhum cometimento (ou compromisso, como aprendi a dizer em Moçambique) e o sonho do meu mano ainda não se realizou...


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