A casa era um lugar vazio pronto a ser preenchido, só não sabia como nem quando. Tinha a chave numa mão e na outra uma lista básica de sobrevivência: colchão, fogão e frigorífico.
Nas costas uma mala com copos, talheres, toalhas, lençóis, pelas mãos da mamã, e uns quantos objectos que começariam a preencher os armários e a mesa. A mesa, bem a mesa ainda não chegou, quero dizer o balcão que liga a sala e a cozinha.
Ao lado um saco com uma panela, um tacho, dois pratos e uma chávena.
Depois viria outra e outra e as viagens trariam copos reciclados e a necessidade sugeria a compra de mais talheres e outros tantos objectos.
O tempo traria paletes para transformar em cama e em sofás, para acompanhar a cadeira de balanço sobre a esteira, que observa o topo da cidade, as copas das árvores, a parte mais alta da mesquita, que adormece enquanto a lua aparece e acorda quando o sol ainda dorme.
As cortinas desiguais filtram a luz em partes.
Da casa vê-se o pôr-do-sol quando não há névoa e vêem-se os aviões a passar.
Os presentes foram enchendo pequenos cantos com uma família sagrada, um anjo da guarda, fotografias, pedaços de publicidade, que se transformam em quadros e poesia nas paredes.
A casa está mais cheia que vazia, mas ainda falta enchê-la com gargalhadas e mais emoção.
A casa diz: seja bem-vindo quem vier por bem...
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